O MEDIADOR DE LEITURA
·
Junho/2007
Esse tema tem me
acompanhado por muitos anos... Ou será que sou eu que o persigo há vários anos?
Esse interesse pode ser explicado pela preocupação que tenho em destacar a
importância desse personagem (mediador) nada vida de cada leitor. Eu defino
mediador como aquele indivíduo que aproxima o leitor do texto. Em outras
palavras, o mediador é o facilitador desta relação. E como intermediário de
leitura, o mediador encontra-se em uma situação privilegiada, pois tem nas mãos
a possibilidade de levar o leitor a infinitas descobertas.
Mas, quem pode
mediar leitura? Afirmo com convicção que: os familiares, os professores, os bibliotecários,
os escritores, os editores, os críticos literários, os jornalistas, os
livreiros, os tradutores, os webdesigners, e
até os amigos que nos emprestam um livro ou indicam um CD-ROM e uma página
literária na Internet. Porém, os mediadores que mais se destacam são os
familiares, os professores e os bibliotecários; e estes precisam estar
conscientes da responsabilidade que têm.
Os familiares
deveriam ser os primeiros mediadores de leitura, pois são os primeiros elos da
criança com o mundo; entretanto os pais e demais membros da família, em geral,
não têm a dimensão da influência que podem exercer sobre as crianças, no
sentido de motivá-las à leitura. Assim, aos pais, em especial, cabe a tarefa de
aproximar a criança do texto, pois o gosto pela leitura “[...] deve ser
adquirido no período em que se está ainda no processo de aquisição da linguagem
oral [...]”(POSTMAN, 1999, p.90). Ou seja, no período em que as crianças estão
mais flexíveis, inquietas, curiosas e desejosas de aprender o novo; portanto,
desprendidas de conceitos e preconceitos, interessando-se em explorar tudo que
está ao seu redor. Este é um período em que se deve aproveitar para estreitar a
convivência com o texto literário; porém, infelizmente, nem sempre as condições
econômicas do brasileiro permitem a ele a inclusão do livro, de um CD-ROM ou da
Internet no orçamento familiar, resultando que a maioria passa toda uma vida,
sem nunca ter comprado sequer um jornal.
Desta forma, se a
família não tem condições (econômicas e culturais) de cumprir a tarefa de
mediadora da leitura, as escolas, de maneira precária ou de forma enriquecida,
tentam fazer esta mediação.
Assim, o professor
é encarregado compulsoriamente de aproximar o educando da leitura; porém, é
fundamental que ele faça esta mediação, mostrando o texto como algo prazeroso e
não como instrumento de avaliação e tarefa. Além
disto, se o professor não for [...] “crítico,
sensível, consciente e um bom leitor, jamais poderá passar o prazer do texto,
literário ou não literário” (JOSÉ, 1992, p.203). É preciso ler com gosto,
porém, o que acontece quotidianamente é que, muitas vezes, o professor não tem
tempo para refletir que o seu papel “[...] na intermediação do objeto lido com
o leitor é cada vez mais repensado: se, da postura professoral lendo ‘para’
e/ou ‘pelo’ educando, ele passar a ler ‘com’, certamente ocorrerá o intercâmbio
das leituras, favorecendo a ambos, trazendo novos elementos para um e outro”
(MARTINS, 1983, p.33).
E assim o leitor,
além de se cumpliciar com o autor e os personagens, tem no professor também um
cúmplice; isto é, se o professor estiver disposto a compartilhar com ele a
leitura/as leituras.
Da mesma forma,
esperamos que isto também ocorra com o bibliotecário. Vou colocar nesta
conversa a “voz” da minha querida amiga Maria
Helena T. C. de Barros,
ex-orientadora do mestrado (ex? será que existe ex-orientadora?). Para ela “[...]
mediar leitura, na biblioteca, significa fazer fluir material de leitura até o
leitor, eficiente e eficazmente, formando e preservando leitores. Significa uma
postura ativa, de acordo com
uma biblioteca moderna e aberta”.
Tamanha
responsabilidade deve ser interpretada pelos mediadores como um desafio
constante, pois o papel que eles desempenham na motivação de leitura pode interferir
com maior ou menor profundidade na formação dos leitores de uma coletividade.
Portanto, os mediadores interessados em uma mediação eficiente, devem ser
empáticos; para que posicionados no lugar do outro (leitor), possam percebê-lo
com maior nitidez.
E para terminar
nossa conversa de maneira apetitosa, resgato a alegoria que Paulo Freire faz a respeito da
leitura e que serve como reflexão aos mediadores:
Ler é como chegar a uma horta e saber o que é cada
planta e para que ela serve. Quem não sabe nada de “ler horta”, entra dentro
dela e só vê um punhado de plantas de mato. Um monte de plantas diferentes, mas
parecendo que é tudo igual. Quem não aprender a “ler” a horta, a conhecer
os seus segredos, não sabe o que é cada uma, como é que se prepara cada uma,
com o que é que se come (BRANDÃO, 2005, p. 49).
E quem não ensina a
ler a
horta, como fica?
Resposta: perde
tempo e não podemos perder tempo, precisamos cultivar a terra brasileira!
Sugestões de Leitura:
BARROS, Maria
Helena Toledo Costa de. Leitura
do adolescente: uma interpretação pelas bibliotecas públicas do
Estado de São Paulo - pesquisa trienal. Marília:
UNESP, 1995.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Paulo
Freire, o menino que lia o
mundo: uma história de pessoas, de letras e de palavras.
São Paulo: Editora UNESP, 2005.
JOSÉ, Elias. Minando
o terreno. In:
CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL, 8, 1991, Campinas. Anais... Campinas, 1992. p.201-204.
MARTINS, Maria Helena. O
que é leitura. São Paulo:
Brasiliense, 1983.
POSTMAN, Neil. O desaparecimento da infância. Rio de Janeiro:
Graphia, 1999.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. O bibliotecário e a
formação do leitor. Leitura: teoria &
prática, Campinas, v.6, n.10, p.5-10, dez. 1987.
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71 Leituras
Doutora e Mestre
em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de
Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG
Mundoquelê.
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